terça-feira, 15 de dezembro de 2009

António Lobo Antunes

Já vos falei dele. É sem dúvida um dos punhos mais prementes da literatura portuguesa contemporânea. António Lobo Antunes além de grande escritor, sei-o agora, é um grande homem. Nem sempre assim é. Vi há pouco uma entrevista que ele deu, na RTP sobre si e sobre o seu último livro. Já tinha lido o que se escrevera a propósito de uma outra entrevista, aquela para a Visão sobre o obreiro e a obra. Vendo e ouvindo o que ele tinha para dizer, juntando a isso as crónicas que leio religiosamente há anos (na revista Visão), posso aconselhar vivamente este escritor.
Humano, humilde, terno, meigo... Diz, na entrevista que aprendeu muitas coisas, ainda que se sinta todavia um ignorante. Fala da importancia das suas avós, que lhe ensinaram a ternura, o ensinaram a amar e a perdoar, se bem que nao consegue perdoar como elas. Fala das mulheres, e quando confrontado com o facto de, aparentemente saber muito sobre elas, diz, com toda a simplicidade que saiu de uma, o que justifica em parte o que sabe, e antes de sair, viveu 9 meses dentro de uma. Mais ainda, afirma que foi delas que aprendeu o que às emoções diz respeito. Que tem saudades de quando a avó lhe fazia festas, e ele com a cabeça no colo desta...

Um Lobo Antunes que sofreu ao perder o sentido da "eternidade" ao saber-se vítima de um cancro. A violência dos tratamentos, o sentir-se paciente depois de ter sido sempre a outra parte, quando exercia medicina, a admiração que nutre por determinadas pessoas que não conhece mas que sabe o que fizeram, o que justifica esse amor por elas.
Sem dúvida fantástico. Recomendo vivamente a ver a reportagem. É longa (Programa Grande entrevista por Judite de Sousa na RTP 1), tem 32 minutos, mas vale a pena ver e ouvir.
Diz ainda que há determinadas pessoas com tamanha dignidade que ele tem vontade de se ajoelhar perante elas. Diz também que antes, quando era médico acreditava em Deus às vezes à noite. Agora, conheçe-o melhor que nunca, e os pacientes não sao apenas casos como eram quando começou a exercer a medicina, mas sim pessoas, com um rosto, uma história, um contexto, e uma humanidade que por anos lhe escapara.
Depois de ter sobrevivido à doença, diz-se mais forte, sem medo de mostrar as emoções. Disse que começou a beijar os seus amigos, e que é bom isso, sem que o soubesse; que começou a passar mais tempo com as pessoas, começou ainda a dar importância a tantas coisas que por anos lhe pareceiam fúteis e que agora começam pela primeira vez a fazer sentido.
Para ver a entrevista integral, cliquem aqui.
A poucos dias do Natal, parece-me importante que vejamos, todos nós, comigo em primeiro lugar, um verdadeiro testemunho de uma pessoa vivida, culta, mas ao mesmo tempo humilde, sincera, com a qual podemos aprender muito. São estes que, no fim de contas marcam a diferença em todos os campos. Isto porque mais do que saber mais, devemos SER mais, todos e cada dia. E é na medida em que o formos, que seremos felizes e realizados.

P.S. Post com erros, ou melhor, com falta de acentos. Logo resolvo isso ;o)
P.S. II: resolvido

1 comentário:

Bárbara disse...

Eu também já vi e ouvi a entrevista! A própria postura que tem durante toda a entrevista é a da humildade de alguém que tendo perdido o sentido da eternidade e foi reencontrar, dentro de si próprio! à noite ou de dia, sem hesitação, como antes =)