terça-feira, 7 de julho de 2009

Justiça

Toda a gente sabe que ela é cega. O que muitos não sabem, é que há maneiras de tornar as coisas inteligíveis para a Justiça. Falo de quê? Jantaradas, banquetes, caixas que entram pelas traseiras de casa... Ou seja o convite e os presentes são inofensivos, imaculados. Se os presentes e os convites vêm de uma das partes julgadas, aí as coisas mudam de figura, donde a necessidade dos presentes serem recebidos por terceiros e não pelos próprios.
Isso muda tudo? Completamente. A que propósito o post? A propósito de um outro, não post mas artigo de opinião do já noto RAP (Ricardo Araújo Pereira). Semanalmente, como sabeis, escreve um artigo de opinião na revista Visão. O desta semana fala de Madoff, o conhecido (ainda que pelos piores motivos), banqueiro norte americano. Diz RAP que este foi condenado de uma maneira muito rápida. Rebentou o escândalo em Fevereiro se não erro e já foi condenado a 150 anos de prisão, e cito:
«Uma coisa é estar preso para sempre; outra é poder sair ao fim de 150 anos(...)Sobretudo se alguém lhe fizer aos anos de prisão o mesmo que ele fez às contas bancárias dos clientes. (...) estas pessoas que têm dinheiro para pagar a bons advogados levam 150 anos mas depois, ao fim de 75, já estão cá fora por bom comportamento.».


Em meio ano deu para descobrir o que fizera, para estudar o caso, para o ouvirem, para levar com os recursos eventuais: acusação, defesa; deu para decidir, julgar e condenar o réu.
Mas quando a justiça não funciona, ou tem liberdade suficiente para
levantar a venda, aí sim, começam os problemas. Porque ainda que nem tudo o que reluza seja ouro, as coisas brilhantes chamam mais a atenção. O banco está-nos mais simpático que o preto, et cetera. Em Portugal, como funcionam as coisas? RAP diz-nos:
«Em seis meses, Madoff foi preso, acusado e julgado. Recordo que se trata da maior fraude de sempre, que durou duas décadas. Ainda assim, foi julgada em meio ano. Oliveira e Costa está preso há sete meses. O caso Casa Pia começou a ser julgado em Novembro de 2004. Seis meses não chegam nem para fazer as bainhas às togas de todos os magistrados envolvidos.»

De quem é a culpa? Será da Justiça enquanto tal? NÃO. Porquê? Porque a Justiça em si não tem consistencia ontológica, ou seja, não é. É apenas e só na medida em que dão a cara por ela. E nem todas as caras são dignas de o fazerem. Quem perde? A Justiça e quem se vê envolvido num processo onde a balança só tem um prato. É como competir numa prova com apenas dois carros. Um com pneus novos. e outro em cima de quatro tijolos.
Independentemente da motorização ou da performance, está condenado a perder, infelizmente. Até quando? A ver vamos.
P. S. Post feito em consonância com duas vozes, em uníssono. Duas partes: uma escrita, que engloba todo o enredo e os floreados; outra parte técnica, não difícil mas que fiz questão de concretizar :) Eu fiz a primeira parte. A segunda foi o estimado Malnobre =)
Espero que gostem.
Como realidade não é muito fantástica em si, torna-se fantástica para nós porque é a realidade que temos. Podemos e devemos cogitar algo diferente, algo melhor, mas, por agora é o que temos, e por ser único, torna-se fantástico.
Há coisas fantásticas não há?

2 comentários:

Malnobre disse...

Pois... muitas vezes parece que a Justiça portuguesa é um carro em que as rodas foram substituidas por tijolos... É claro que assim o carro não desenvolve grande coisa...

Casca

Cristóvão Cunha disse...

Comment de António José importado do hi5 =)
Bom dia amigo. Já li o que escreves-te sobre a justiça e efectivamente tenho de render-te a minha homenagem, porque aquilo que escreves é a pura realidade que infelizmente vivemos neste cantinho à beira-mar plantado! Há Justiça para os poderosos e (in)justiça para os que não têm dinheiro para se fazerem representar. A Justiça devia ser cega aprendi eu nos bancos da faculdade, mas cada vez constato mais que ela vê bem os poderosos...
A sua aplicação devia primar pela isenção porque aplicada por órgãos de soberania em nome do Povo, mas na realidade de isenção tem muito pouco... até se legisla para casos concretos (e.g. Casa Pia)... Enfim, até quando continuaremos a assistir serenamente ao desmoronar e gangrenar deste importante pilar da Democracia?... Não esqueçamos que quando os filhos de Abrãao se calam, gritam as próprias pedras. O Povo é sereno, vai calanado, calando, mas um dia virá em que rugirá o seu grito de revolta e aí... a terra tremerá... Abraço amigo."

Obrigado Tó Zé =)